Atualmente, a necessidade do jejum depende do tipo de exames ou até do metabolismo do paciente.
Define-se jejum como a privação parcial ou total de alimentos, durante um certo tempo. Em análises clinicas o termo jejum é muito comum, uma vez que já é consagrado a necessidade deste antes da realização da maioria dos exames.
A necessidade do jejum prolongado para a realização dos exames laboratoriais, chega a ser um conceito histórico incutido nas pessoas por vários anos. Isso se deve a dois principais fatos, sendo o primeiro deles, em virtude de as técnicas laboratoriais de antigamente não serem capazes de detectar algumas alterações causadas pelos alimentos, fato estes já solucionados com a evolução dos equipamentos e reagentes químicos utilizados nas dosagens laboratoriais e, o segundo, decorre do fato de os valores de referência dos testes terem sido estabelecidos em indivíduos nessa condição, sendo assim, a refeição pode alterar a composição sanguínea momentaneamente sendo que, sem o pré-requisito, cada exame teria de ser analisado à luz do que a pessoa ingeriu, invalidando um valor de referencia padrão para a população. Corrobora o fato de o jejum de 12 horas não ser um estado fisiológico normal, onde os indivíduos ficariam sem um aporte calórico por muito tempo.
De maneira geral, o período clássico de jejum de 12 horas foi definido com base no tempo máximo que uma pessoa demoraria em metabolizar o alimento ingerido de uma determinada refeição. Mas as pessoas possuem um metabolismo diferente e, por isso, o período de jejum habitual para a coleta de sangue de rotina é de 8 horas, podendo ser reduzido a 4 horas para a maioria dos exames.
Um consenso europeu para definição de valores de risco cardíaco para dosagem de lipídeos demonstrou que as variações entre as dosagens com e sem jejum apresentaram pequenas diferenças, as quais poderiam ser corrigidas através da definição de novos valores referenciais. Neste estudo foi levado em consideração que a maioria das pessoas consome várias refeições durante o dia e, algumas consomem lanches entre as refeições; o estado pós-prandial, portanto, predomina no período de 24 horas. No entanto, na prática clínica, o perfil lipídico é convencionalmente medido no soro obtido após jejum de pelo menos 8 horas e, portanto, poderia não refletir as concentrações séricas diárias de lipídios e lipoproteínas e o risco associado de doença cardiovascular. Com base neste estudo a dosagem com jejum prolongado de 12 horas para o perfil lipídico, seria necessária somente quando o nível de triglicérides, fora do estado de jejum, estiver acima de 440 mg/dL.
A Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial – SBPC/ML, sociedade médica que congrega os médicos especialistas e profissionais que atuam na realização de exames laboratoriais publicou o documento inicial sobre o fim do jejum para o perfil lipídico onde esclarece a flexibilização no tempo de jejum para o perfil lipídico (colesterol, HDL-c, LDL-c e triglicérides). Neste documento é destacado a não obrigatoriedade das 12 horas de jejum para a realização destes exames, devendo o médico acordar com o seu paciente o tempo de jejum a ser realizado podendo os laboratórios realizar a coleta do perfil lipídico independente do tempo de jejum.
Neste documento é destacado que a interpretação do resultado do perfil lipídico do paciente deve ser feita com critério pelo médico solicitante, avaliando: o estado metabólico, a indicação do teste e a estratificação de risco.
Entre as vantagens da flexibilização do jejum se destaca o fato de que ele simplifica a coleta de sangue para pacientes, laboratórios, clínicos gerais e médicos hospitalares, além de melhorar a adesão do paciente ao exame lipídico. De maneira geral todos se beneficiam. O paciente que não precisa mais passar pelo desconforto de ficar 12 horas sem comer, principalmente aqueles mais sensíveis – como é o caso dos diabéticos que usam insulina. Outros grupos que acabam sendo passíveis de intercorrências são as gestantes, crianças e idosos.
Entre os exames mais solicitados pelos médicos, a maioria já pode ser realizada no BIOMED sem jejum. Fazer exames em horários alternativos como na hora do almoço ou no fim do dia pode ser a melhor opção.
Bibliografia:
1. Nordestgaard BG et al. Fasting is not routinely required for determination of a lipid profile: clinical and laboratory implications including flagging at desirable concentration cut-points — a joint consensus statement from the European Atherosclerosis Society and European Federation of Clinical Chemistry and Laboratory Medicine. Eur Heart J 2016
2. Recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica / Medicina Laboratorial (SBPC/ML): Coleta e Preparo da Amostra Biológica. 2014. Disponível em: http://www.sbpc.org.br/?C=2235
www.sbpc.org.br
3. Consenso Brasileiro para Normatização da Determinação Laboratorial do Perfil Lipídico.
www.sbpc.org.br/upload/conteudo/consenso_jejum_dez2016_final.pdf
Autores:
Msc Carlos César Camillo
Farmacêutico Bioquímico
- Mestre em Ciências Aplicadas a Pediatria pela Universidade Federal de São Paulo
Dr Tiago Donizetti Silva
Biólogo
- Especialista em Patologia Clínica pela Universidade Federal de São Paulo
- Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo
- Doutor em Medicina Translacional pela Universidade Federal de São Paulo