Cerca 70% das informações pertinentes às decisões médicas são derivadas dos exames laboratoriais, por isso todas as fases da análise exigem máximo rigor técnico.
Os testes ou exames laboratorias são um importante instrumento de auxíilio diagnóstico para complementar o raciocínio médico após minucioso exame físico e investigação da história clínica do paciente frente a uma hipótese diagnóstica. Trabalhos reforçam que 65 a 70% das informações pertinentes às decisões médicas são derivadas dos exames laboratoriais, e é devido a este grau de confiabilidade que se faz necessário conduzir todas as etapas que envolvem a análise dos diversos matérias biológicos com o máximo de rigor técnico, garantindo a segurança do paciente e sendo uma ferramenta efetiva para o médico assistente que o solicita, norteando uma conduta terapêutica com segurança.
As fases da análise laboratorial classicamente são divididas em:
- Fase pré-analítica: teoricamente esta se inicia com a coleta do material para a realização do exame, porém, existe uma linha de pensamento que considera o momento em que o médico solicita o(s) exame(s) o início da fase pré-analítica;
- Fase analítica: corresponde à etapa de execução dos exames propriamente dita;
- Fase pós-analítica: envolve os processos de validação e liberação dos laudos, que se encerra após o médico receber o resultado final, interpretá-lo e tomar sua decisão.
Todas as fases merecem rigor técnico, porém a que merece maior atenção por ser responsável por maior parte dos equívocos que podem interferir no resultados dos exames e pelo controle do laboratório ser limitado a estas condições é a fase pré-analítica. Segundo a literatura científica, estima-se que cerca de 70% dos erros laboratoriais se concentram nesta fase podendo gerar resultados não consistentes com o quadro clínico do paciente. Por essa razão vamos citar os principais fatores envolvidos nesta etapa.
Principais fatores pré-analíticos que mais interferem nos resultados dos exames:
Variação cronobiológica: são alterações cuja concentração de determinada substancia se altera em relação ao tempo, podendo ser diária, mensal, anual etc. Exemplo: a concentração de ferro e cortisol são menores na parte da tarde.
Gênero: alguns exames variam de acordo com o sexo, hormônios por exemplo.
Faixa etária: devido a maturidade funcional dos órgãos e sistemas. É digno de nota que em idosos essa influência é maior, principalmente devido ao conteúdo hídrico, lipídico e massa muscular. Doenças subclínicas devem ser levadas em consideração na maturidade.
Jejum: já falamos sobre o assunto na edição anterior.
Dieta: indivíduos que possuem dieta rica em proteínas promovem níveis elevados de ureia e ácido úrico.
Álcool e fumo: o álcool com consumo esporádico na véspera da coleta do exame pode gerar in vitro (por reações químicas) alterações significativas e imediatas nos níveis de glicose e triglicérides, diminuindo a concentração do primeiro e elevando o do segundo analito.
Atividade física: é transitório devido a mobilização de água que provoca, causando desequilíbrio entre os compartimentos do organismo. Recomenda-se que o paciente esteja em condições basais.
Gestação: neste período da vida da mulher existem mecanismos que mudam o nível das substancias no plasma sendo estes provenientes de diversos fatores fazendo com que a análise de qualquer substância deva ser interpretado com atenção.
Medicamento em uso: o uso de medicamentos deve ser relatado no laudo para evitar que alterações nos resultados dos exames provocados por determinado medicamento interfiram no raciocínio do médico assistente. O uso de corticoide aumenta a concentração de glicose e o uso de estatinas os níveis de CPK, por exemplo.
Concluindo, embora essas variáveis não sejam controladas pelo laboratório é possível minimiza-las por meio da orientação do paciente realizada pelo laboratório e médico solicitante. Vale considerar que no dia anterior o cliente/paciente vá ao laboratório de sua escolha e recolhas as orientações pertinentes ou utilize dos canais de comunicação do serviço utilizado. É digno de nota que o paciente mantenha seu ritmo e estilo de vida normal para que, os exames sejam uma ferramenta consistente no auxílio diagnóstico e raciocino médico.
Autores:
Msc Carlos César Camillo
Farmacêutico Bioquímico
- Mestre em Ciências Aplicadas a Pediatria pela Universidade Federal de São Paulo
Dr Tiago Donizetti Silva
Biólogo
- Especialista em Patologia Clínica pela Universidade Federal de São Paulo
- Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo
- Doutor em Medicina Translacional pela Universidade Federal de São Paulo